hoje kátia a inquilina
falava sobre a viagem de sua mãe
visita à terra, o Ceará
de avião
disse que a família estava apreensiva
mas que a mãe fizera boa viagem
olhou pela janela, passou bem
perguntada se era a primeira vez da mãe num avião
respondeu que não
mas que a mãe tinha problema de sistema nervoso
não podia ficar muito emocionada
nem de alegria
nem de vexame
pensei no antônimo inusitado
vexame como oposto de alegria
não sei até agora o que isso significa
mas intriga
Nocturnas Horas
sobre o tempo
quinta-feira, 11 de agosto de 2016
sábado, 25 de junho de 2016
e aqui me encontro a desfrutar de manga madura
a presa doce
entre os dentes
é tão mais suculenta
quanto mais ferida
tão mais se doa
quanto mais explorada
as mangas maduras
não raro superam em transe e delírio
os beijos mais calorosos dos amantes
há algo de transcendental em se fruir
a sós
de manga madura
- a pouca vergonha
o escorrer do sumo na face
entre os dedos
língua, dente e lábios
em surto coordenado
e findo o devaneio
resto eu
satisfeita e inconformada
a presa doce
entre os dentes
é tão mais suculenta
quanto mais ferida
tão mais se doa
quanto mais explorada
as mangas maduras
não raro superam em transe e delírio
os beijos mais calorosos dos amantes
há algo de transcendental em se fruir
a sós
de manga madura
- a pouca vergonha
o escorrer do sumo na face
entre os dedos
língua, dente e lábios
em surto coordenado
e findo o devaneio
resto eu
satisfeita e inconformada
sexta-feira, 10 de junho de 2016
sexta-feira, 27 de maio de 2016
se eu cair doente,
você vem ficar comigo,
e fica até eu melhorar?
se for domingo,
e eu quiser ir ao horto,
só namorar umas plantinhas e voltar,
você vai comigo?
e se for sábado à noite e eu não quiser sair?
se eu disser que quero beber água de coco
você vai buscar na rua e me trazer?
eu não gosto de pedir
e nem te peço nada
mas às vezes preciso de você
pra passear um pouco
do lado de fora da minha solidão
você vem ficar comigo,
e fica até eu melhorar?
se for domingo,
e eu quiser ir ao horto,
só namorar umas plantinhas e voltar,
você vai comigo?
e se for sábado à noite e eu não quiser sair?
se eu disser que quero beber água de coco
você vai buscar na rua e me trazer?
eu não gosto de pedir
e nem te peço nada
mas às vezes preciso de você
pra passear um pouco
do lado de fora da minha solidão
quarta-feira, 11 de maio de 2016
quarta-feira, 4 de maio de 2016
quinta-feira, 21 de abril de 2016
resolvi me aventurar
deixar você me pegar em casa
te levar umas cervejas
te ver de novo
resolvi me aventurar
te mostrar uma música
falar da minha adolescência
ouvir sobre teus pais
resolvi te dar espaço
corresponder
não te estranhar
me estremecer
resolvi que
as aventuras íntimas
são mais que pontes de desejos
são lugares vivos
onde eu aconteço
deixar você me pegar em casa
te levar umas cervejas
te ver de novo
resolvi me aventurar
te mostrar uma música
falar da minha adolescência
ouvir sobre teus pais
resolvi te dar espaço
corresponder
não te estranhar
me estremecer
resolvi que
as aventuras íntimas
são mais que pontes de desejos
são lugares vivos
onde eu aconteço
quinta-feira, 31 de março de 2016
~
aí, vem alguém
que dá gravidade à solidão da gente
torna a solidão doentia
oferece a cura
fornece paliativos
não resolve
cria a fome
e não sacia
a solidão cresce
desarruma o que era certo
a solidão se abisma
tritura tudo o que compunha a lúdica atmosfera
e engole tudo
o alguém
a gente
e mói o coração
- a gente finge, mas a gente nunca se refaz
aí, vem alguém
que dá gravidade à solidão da gente
torna a solidão doentia
oferece a cura
fornece paliativos
não resolve
cria a fome
e não sacia
a solidão cresce
desarruma o que era certo
a solidão se abisma
tritura tudo o que compunha a lúdica atmosfera
e engole tudo
o alguém
a gente
e mói o coração
- a gente finge, mas a gente nunca se refaz
terça-feira, 29 de março de 2016
eu pedi que te avisassem
que tenho sido um tipo avesso
queria te prevenir
do meu mal
riram de minha preocupação
perguntaram por que eu queria te proteger de mim
venhas determinado
tenhas um propósito honesto em mim
sejamos francos
nós nunca nos detemos
nunca nos deteremos
em ninguém
o outro
é sempre através
sempre retroverso
sujeito a,
não-sujeito
e como o clímax da música
preciso de explosão
antes do amparo
se te advirto do meu mal
é para instar disposição
para que
tendo aprendido o jeito
depois
tu me protejas de mim
que tenho sido um tipo avesso
queria te prevenir
do meu mal
riram de minha preocupação
perguntaram por que eu queria te proteger de mim
disseram que não ofereço perigo
que tu não merecias proteção
sei
que não sou tão má
porque me preocupo em te preservar
o faço
porque a bondade é una
transpassa os homens
e ofender a bondade de um homem
corresponde a ofender a bondade do mundo
e não quero ferir o mundo
como o mundo tem me ferido
porque dói,
e não me desvencilho da ideia de ser também mundo
se crio obstáculos
é porque quero que me mostres
a firmeza do teu desígnio
quase peço
me vejas com doçuraque não sou tão má
porque me preocupo em te preservar
o faço
porque a bondade é una
transpassa os homens
e ofender a bondade de um homem
corresponde a ofender a bondade do mundo
e não quero ferir o mundo
como o mundo tem me ferido
porque dói,
e não me desvencilho da ideia de ser também mundo
se crio obstáculos
é porque quero que me mostres
a firmeza do teu desígnio
quase peço
venhas determinado
tenhas um propósito honesto em mim
sejamos francos
nós nunca nos detemos
nunca nos deteremos
em ninguém
o outro
é sempre através
sempre retroverso
sujeito a,
não-sujeito
e como o clímax da música
preciso de explosão
antes do amparo
se te advirto do meu mal
é para instar disposição
para que
tendo aprendido o jeito
depois
tu me protejas de mim
quarta-feira, 23 de março de 2016
Estou aqui, inerte,
mas com algum esforço,
você me vence
não como uma conquista, de sua parte
ou uma concessão, de minha
mas como uma decorrência lógica
do teu esforço
- como se não fosse permissão nem domínio
Lembro alguma coisa do teu rosto
lembro que tem a pele marcada
e, o que poderia me causar repulsa,
me provoca interesse.
Porque há mais história,
na imperfeição
Sou capaz de te amar
e é capaz que eu te ame
como poderia amar a qualquer um
e é capaz que eu te coroe com meu amor
como poderia coroar a qualquer um
apenas para exercitar
um talento abandonado
para falar uma língua morta,
por pura excentricidade
É capaz que então eu veja em você
a beleza que eu vejo nas conchas feias,
que mesmo assim recolho e guardo
e o que era sem contexto e sem sentido
é ressignificado.
Por isso é que, mais tarde,
é difícil devolver ao mar a concha
sem nenhum pesar
Só não quero guardar nem espuma
quando, depois do tempo do encontro
eu tiver que te atravessarterça-feira, 1 de março de 2016
quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016
às vezes,
eu me sinto
no topo de uma onda
num lugar alto
vendo coisas
que só a minha visão pode enxergar
entre o mar
e o resto do mundo,
no instante em que sou uma fronteira
o ponto limite no traço de uma linha imaginária entre duas imensidões
no topo de uma onda
que está prestes a desmoronar,
e eu tenho poder e medo
depois, me vejo
no coração da correnteza
onde a água muda o rumo,
ou sendo jogada à beira
até quando a água quebrar
e a água ficar despedaçada
em cacos
feito um papel picado
que breve-breve se refaz líquido
(e eu também consigo evaporar
não sei como aprendi
a passar por todos os estados das coisas)
a vida, às vezes, atropela a gente
e saio eu
criança feliz
me reerguendo do caixote,
misto de vergonha
e orgulho em busca de um olhar que tenha testemunhado a vitória
sobreviver
é um mérito único,
é o ato heroico de cada um
não sei se tudo retorna ao ponto de origem
ou se a origem das coisas em tudo permanece
e a gente desencontrado
fica sentindo que não consegue voltar
à origem que nos acompanha
a lucidez das coisas
é uma espécie de reencontro
eu antecipo os acontecimentos
eu me recupero de qualquer estrago
eu não evito nada
a vida estraçalha os sonhos
e dos sonhos desfeitos
moldamos sonhos novos,
somos incansáveis
não sei quem me ensinou
a ter todos todos os tamanhos
e gostar de ser
pequenininha
sábado, 30 de janeiro de 2016
haverá recompensa
para o tempo da espera
chegará o amor sem fôlego
e desarmado
se prostrará aos teus pés
chegará o amor de longe
como que exausto de uma longa batalha
ou
virá do exílio
virá desamparado
e até mesmo perverso
ferido
despedaçado
o amor virá
virá cansado
desistido
desarrumado
ainda assim
virá o amor
arruinado
mas fiel
na crença em revigorar
sábado, 26 de dezembro de 2015
sábado, 21 de novembro de 2015
de manhã,
tomei leite com nescafé
nescafé, para mim, só fica bom com leite
e pouco açúcar
e canela, mas canela nem sempre
e bastante açúcar, às vezes
de sobremesa,
tomei sorvete de açaí
no fim da tarde,
eu caminhava pelas ruas do bairro
tão feliz tão feliz que é horário de verão
já de noite,
tomei umas brahmas na varanda da vizinha
entre roupas estendidas, um tanque, e azulejos descombinando
tivemos uma boa conversa
agora mais tarde,
comi dois ovinhos moles
e de sobremesa
cerejas em calda
mais até do que devia
no banho,
usei o sabonete johnson novo
comprei quatro deles, cada um com um aroma
e depois, tomei o tal colágeno hidrolisado
para dar fim à condromalácia
estou desconfiada quanto à eficácia do tal suplemento
mas mentalizo assim "joelhinho, fica bom"
o prazer que eu tenho na irrelevância
quinta-feira, 12 de novembro de 2015
Anteontem tinha roda de capoeira, na rodoviária. Estava bonito, cada um parecia uma mola; é preciso ser muito forte para envergar e não se quebrar nem desequilibrar. A força nem sempre é dura. Entre a rodoviária e minha casa, tem uma ponte. Debaixo da ponte corre um rio. E é bonito enquanto eu passo sete passos olhando o rio. Minha pressa é menor, por sete passos. O rio está baixo, mas eu não lamento o rio baixo, como fazem as outras pessoas. Eu aprecio as pedras, que só aparecem porque o rio está baixo. Hoje de manhã, a gata da vizinha apareceu aqui. É uma gata marrom, muito peluda e muito séria, mas que não rejeita carinho. Sentei-me ao chão, na varanda, para mimar a gata. Não por ela, por mim. A vizinha apareceu, encontrou a gata, não se aproximou, apenas olhou e sorriu, solidária e um pouco surpresa. Agora à noite, voltando do restaurante, parei uns instantes para alisar a testinha de um cão vira-lata preto bem pretinho, que vive triste na escada da vila. Vive ensimesmado, quase não se mexe. Ainda não tive coragem de perguntar se ele tem dono ou ao menos alguém que cuide, porque tenho forte tendência a abarcar responsabilidade, e responsabilidade traz preocupação. Omitir-se pode não ser correto, mas às vezes encontramos mais tranquilidade na omissão; é só listar justificativas para sanar a culpa e uma culpa pequena vai sendo absorvida pelos dias, e compensada pelo sofrimento das pequenas injustiças a que somos acometidos. No fim, tudo é uma questão de discurso. Incrível como essa cidade tão cedo se tornou familiar. Tudo bem, até hoje não consegui descobrir a lógica das linhas de vans e kombis, mas saindo do ponto final, e virando referência na localidade, logo algum motorista me grita apressado Fórum-Fórum! Eu tenho esse talento: o de transformar lugares e pessoas rapidamente em coisas familiares. O cão não festejou meu afago, e de repente eu me vi no cão. Tão só, tão só, tão sedimentado na solidão, que nem uma possibilidade de companhia lhe entusiasma. A solidão de quem conhece o desengano, o cansaço do mundo nos olhos, enfiado no poço da descrença. Ainda assim, eu resisto, eu nutro uma fé na comunhão. Apesar de eu ser muito só (ou mesmo por isso, talvez, quem sabe), qualquer lugar é casa, qualquer pessoa é irmã.
quarta-feira, 11 de novembro de 2015
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