sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

Quando as coisas assumem o poder de se perpetuarem além de si (de sua existência)



Se me refiro às coisas, assim, tantas vezes e em tantas ocasiões é que as coisas pra mim são tudo, ou quase, que não gosto de generalizações. A vida tem se resumido a fazer o que deve ser feito. Ponto. Que estranho caminho para a felicidade, diria Barbara. Não é de se admirar que eu seja triste. E triste sem motivos tantos que justifiquem. De modo que nenhuma espécie de piedade legítima consigo atrair para mim sem culpa, o que me torna mais triste ainda. Ontem quando conversávamos sobre as adversidades do tempo, eu te dizia que só o tempo nos acompanha. Vão-se os pais, os amigos, os amantes, os fatos, só fica o tempo, o que passou, o que virá. Então, eu queria entender melhor a medida das coisas, da intensidade delas, do esquecimento. Encontrei novas formas de chamar teu nome, me distraí ao longo das avenidas. Não corri perigo durante toda essa nossa busca. Não achava que perigo fosse condição pra coisa alguma valer a pena. Eu era um espasmo permanente de lucidez. Eu não queria que fosse diferente, eu não pensava em como poderia ter sido. Eu construí uma margem entre o mundo e eu. Você estava no meio dela. Não era de todo do lá-fora, nem tanto imerso aqui dentro. Talvez fosse a terceira margem de um outro rio. Mas me percorria, e agora se perpetua em mim. Você é minha cegueira. Agora, repentina, descubro. Uma cegueira que de tão cega doía a vista, o peito. Você, meu inferno, meu corte, meu translado.