domingo, 23 de maio de 2010

"eu espero por acontecimentos
mas quando anoitece
é festa no outro apartamento"

você fica aí, olhando pela janela como se soubesse o momento exato em que as coisas acontecem. eu continuo vivendo essa vida como se não houvesse outra vida possível. me agarro a você, por falta de esperança em algo mais.

você com essas costas abertas contra a luz do domingo, vivendo como se eu não existisse. dentro de mim, esbraveja um mundo de coisas impedidas.

eu não consigo te alcançar. os passos até a janela, até tuas costas, são difíceis. é difícil te alcançar. é triste, é doloroso, é solitário.

você sorri para os amigos, promove festas, sorri mais e conta histórias, se embriaga. eu estou por perto, mas você não vê. você não vê este bicho miúdo que te espreita cheio de uma esperança cansada e torpe.

você envolve teus braços firmes nas minhas costas, me abraça um abraço seguro, mas seu sorriso ainda é de todos e a sala demora a se esvaziar.

tudo acaba, você está cansado, eu ainda te espero.

você fica olhando a janela, enquanto tantas coisas morrem deste lado do sofá.