quarta-feira, 20 de junho de 2007

Tua destreza para tornar as coisa velhas me era uma vida à parte. Como a camisa do último Natal. Eu dizia último porque temia que de fato o fosse. E assim, por temer o que eu temia, dizia, desencorajada e robusta - que só sabia viver só, que a noite era materna, que o tempo e os dias eram cortes que se abriam sem sangrar. Eu me colocava discreta e atônita a te assistir envelhecer tudo ao redor. Com a tradição, com o uso, até mesmo com as palavras, revelar-lhes o desgaste, o desuso, o desgosto. Quiçá eu adotaria tal destreza para envelhecer a mim mesma. Das mãos ao olhar; ver-te esmaecido, distante, pesado. Não mais inteiro e ávido. Eu saberei envelhecer-te para que, por compaixão, me ames um pouco mais. Saberei fazer correr o tempo a propósito de nós. Saberei te tocar os olhos quando mais ninguém.

Um comentário:

Leonardo Aldrovandi disse...

Adorei esse.
Parece a morte em vida da depressão.

Original hours.


Leo