sábado, 1 de dezembro de 2007

Nota preliminar: Catarina tinha o poder de trazer o mar duas ondas pra cá da beira.

a intenção era ensiná-la a liturgia das horas, mas Catarina só entendia era o desajuste delas. ninguém havia lhe dito o quanto de desafeto as horas tinham pela vida, isso Catarina aprendera sozinha. para ela, as horas definiam-se como pedaços de eternidade que morrem. arquitetou extinguí-las, como se as horas representassem a contagem das dores, portanto dores sem medida, sem lugar no tempo, deixariam de haver. seria então, apenas o tempo, solto, que esse, Catarina sabia não haver meios de extingui-lo. desejou que Tadeu, antes que a consumisse, como o tempo consumia às horas, que Tadeu perdesse um pouco daquela sua humanidade tão dócil e comovente. apaziguou os conflitos íntimos, transformou-os em rupturas, compensou as dores que a remetiam ao instante anterior à consumação de Tadeu. e disse, com o rosto inexpressivo 'sou guardiã dos teus silêncios'. mas disse baixo, fazendo as palavras arrefecerem-se. Tadeu não pode ouvi-la. é que Tadeu não fazia questão de sabê-la. trouxe-a mais perto do peito. Catarina não demonstrava resistência, mas dentro de si, debatia-se por não saber evitá-lo. como evitar Tadeu, sua humanidade, a consumação prestes a acontecer? Catarina não sabia como evitar aquelas horas. e por isso, morria dentro do peito do Homem. morria para abreviar o tempo, ou, talvez, morria por não saber dizer ou calar ou o que quer que fosse a repeito de Tadeu.

Um comentário:

Anônimo disse...

o que vc escreve, sim,
sangra em mim...