segunda-feira, 7 de abril de 2014

eu preciso, em muitos momentos, ser exclusivamente só. é apenas quando sou toda solidão, que sou em absoluto - ora eu, ora o mundo. pois quando estou só, posso me expandir. ocupo toda a casa, todo o lugar, se estou entre paredes. se estou em campo aberto, me oblitero, sou qualquer coisa que não eu. me transmuto em outras matérias. sou assim: mar imenso, formiguinha carregando folha, fumaça de escapamento, barulho de motor, cheiro de grama cortada, terra. uma pessoa só é uma pessoa tão com ela, tão nela centrada, que encontra conforto até numa luz de abajur, num chocolate esquecido na bolsa. uma pessoa só é uma pessoa tão com ela, tão nela centrada, que quando ela perde um amor que tinha, ela lamenta pelo outro, que o outro tenha perdido as possibilidades de descoberta e contato com o mundo e consigo que só a pessoa que é só pode proporcionar ao outro. a pessoa que é só, que é nela centrada, é tão certa de si que de si transborda e quer ondear o outro. quer banhar o outro de si e repuxar o centrado que o outro tem dele. começa como se mistura farinha à massa de pão de ló, mexendo devagar e leve, pra ficar aerado, mas logo quer se fundir como metal, passando a ser um terceiro ser. esse desejo de fusão jamais pode ser realizado, mas a pessoa que é só não se frustra. sabe que o desejo precisa continuar sendo desejo para que não morra. sabe que ser só é a condição primeira para sentir o outro.

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