quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016

às vezes,
eu me sinto
no topo de uma onda

num lugar alto 
vendo coisas 
que só a minha visão pode enxergar
entre o mar 
e o resto do mundo,
no instante em que sou uma fronteira 
o ponto limite no traço de uma linha imaginária entre duas imensidões

no topo de uma onda
que está prestes a desmoronar,
e eu tenho poder e medo

depois, me vejo
no coração da correnteza
onde a água muda o rumo, 
ou sendo jogada à beira
até quando a água quebrar

e a água ficar despedaçada
em cacos
feito um papel picado 
que breve-breve se refaz líquido 

(e eu também consigo evaporar

não sei como aprendi
a passar por todos os estados das coisas)

a vida, às vezes, atropela a gente

e saio eu 
criança feliz 
me reerguendo do caixote,
misto de vergonha
e orgulho em busca de um olhar que tenha testemunhado a vitória

sobreviver 
é um mérito único,
é o ato heroico de cada um 

não sei se tudo retorna ao ponto de origem 
ou se a origem das coisas em tudo permanece
e a gente desencontrado
fica sentindo que não consegue voltar
à origem que nos acompanha

a lucidez das coisas
é uma espécie de reencontro

eu antecipo os acontecimentos 
eu me recupero de qualquer estrago 
eu não evito nada

a vida estraçalha os sonhos 
e dos sonhos desfeitos
moldamos sonhos novos,
somos incansáveis

não sei quem me ensinou
a ter todos todos os tamanhos 
e gostar de ser
pequenininha