eu me sinto
no topo de uma onda
num lugar alto
vendo coisas
que só a minha visão pode enxergar
entre o mar
e o resto do mundo,
no instante em que sou uma fronteira
o ponto limite no traço de uma linha imaginária entre duas imensidões
no topo de uma onda
que está prestes a desmoronar,
e eu tenho poder e medo
depois, me vejo
no coração da correnteza
onde a água muda o rumo,
ou sendo jogada à beira
até quando a água quebrar
e a água ficar despedaçada
em cacos
feito um papel picado
que breve-breve se refaz líquido
(e eu também consigo evaporar
não sei como aprendi
a passar por todos os estados das coisas)
a vida, às vezes, atropela a gente
e saio eu
criança feliz
me reerguendo do caixote,
misto de vergonha
e orgulho em busca de um olhar que tenha testemunhado a vitória
sobreviver
é um mérito único,
é o ato heroico de cada um
não sei se tudo retorna ao ponto de origem
ou se a origem das coisas em tudo permanece
e a gente desencontrado
fica sentindo que não consegue voltar
à origem que nos acompanha
a lucidez das coisas
é uma espécie de reencontro
eu antecipo os acontecimentos
eu me recupero de qualquer estrago
eu não evito nada
a vida estraçalha os sonhos
e dos sonhos desfeitos
moldamos sonhos novos,
somos incansáveis
não sei quem me ensinou
a ter todos todos os tamanhos
e gostar de ser
pequenininha
Um comentário:
Bonito.
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