Eu precisava dizer-te que a vida agora, já sem ti, aceito o fim, desagregados os fragmentos inteiros, a vida depois dos nós, a vida tinha outros desencantos. Como se não bastassem as dores todas - inventadas e materiais-, não nos bastamos, nós. Nem eu mesma a mim. Eu teria de aprender a ser plena em incompletude.
Reuni os livros (tu os sabes bem), escolhi as canções, o perfume, o vestido. Deitei-me sobre a memória de ti, ainda quente, estendida sobre minha cama, porém já não tinhas braços, nem pernas para me prender. Era eu - volúpia, dor, momento - quem me alojava, quase à força, na fluidez da memória ainda quente de ti. "Quase" porque imaginava que tu reagirias à minha coragem tardia. Como se tu soubesses, além dos livros, meu corpo e ânimo para causas perdidas, leites derramados, finais. Eu procurava trazer à vida o que já não havia, com nobre diligência, cuidado e afinco. Eu imantava a vida de agora, no intuito de trazer a vida de antes. No mais, os dias eram casa, janela e letra.
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