sábado, 3 de maio de 2008

que mistério tem Clarice
sou uma imagem antes de ser uma existência. entenda, eu mesma, eu não me vejo. mas posso me reconhecer nos olhos dos outros, quando me vêem. porém não é sempre que me vêem, então eu me pergunto se minha existência está condicionada aos olhares dos outros, se só existo enquanto posso ser vista, ou se os olhares são apenas o ponto de partida para mais uma existência. e penso: quantas vezes posso existir? o que há entre uma existência e outra? qual o meu lugar no meio disso tudo? tenho eu a consciência de que não existo quando deixo de existir? alguém espera por mim, vela por mim, enquanto não existo? devo esperar pelo dia em que não vou existir em absoluto, em definitivo? existir é a origem do ser ou é aonde se quer chegar? existir é chegar e não existir é o mesmo que partir? há que se contruir algo, há que se derrubar? há que ser o tempo todo? seria minha existência uma imensa cegueira, um despropósito? posso me reconhecer nos olhos dos outros, nos tons do desgosto, nas palavras que morrem sem serem ditas, posso me reconhecer no antes e no depois, posso ser o não dito, posso passar a vida toda adiando esta compreensão,

4 comentários:

Luiz Vieira disse...

é doido. é doído.

é melhor não buscar a compreensão.
(não sei, tenho medo de olhar pra cima e cegar)

Anônimo disse...

Lindo texto! =)

Julya V. disse...

lindo, lindo, lindo.
sâmia, vou te linkar (já deveria ter linkado, inclusive)

Ismar Tirelli Neto disse...

"ser é ser percebido". não lembro quem disse isso, hume, berkeley ou ângela bismarchi.