sábado, 7 de junho de 2008

do orgânico do ser II

Hoje vi um homem sem as tuas feições. Era louro, usava óculos pequenos, de armação preta, fina. Para ele, talvez o mundo tivesse bordas, enquadramento. Não falo de sentido. Num dos cafés mais caros da cidade, esse homem sem as tuas feições mastigava um sanduíche, e mastigava como se mastigasse a própria vida. Com vingança. Também eu queria te mastigar assim. Com mais lentidão e menos voracidade, porque não tenho fome.

3 comentários:

Livia P. disse...

é domingo e eu esvaziei duas garrafas de vinho. não cabe em mim toda a falta.
desculpe, não nos conhecemos, mas alguém precisa estar ao redor. alguém precisa ouvir.

Carol disse...

nosso comer deixa escapar várias outras maneira de tentar se apropriar das matérias do mundo.

talvez o louro precisasse de um bom caramelo pra mastigar e prender os dentes até se esgotar. rs

Livia P. disse...

win wenders fala uma coisa parecida...acho lindo.
o aro do óculos emoldura o mundo. Franzir a testa, perdendo o foco ao olhar, nos dá um mundo em luz.