segunda-feira, 16 de maio de 2011

Pé-direito alto em descontínuo VII

Emiliana agora deu para ficar vigiando o muro. O tempo todo tenho que monitorá-la para verificar se tem cumprido suas funções. A negra velha diz que tem visto homens pulando o muro, vultos na varanda, que tem ouvido panelas caindo no telhado. Essa criada já deu o que tinha que dar. Está ficando louca, esquizofrênica. João diz que devemos ser compreensivos, mas o fato é que não devo nada, além do ordenado, à velha louca. Nunca fez os serviços da maneira que instruí, agora então, que vê coisas, é que não vai mesmo cumprir suas tarefas. João adia uma solução. A criada anda esquecida, chorosa, perguntando por gente há tempos morta, recordando acontecimentos da infância, e eu não sou de me envolver com as lamúrias dos outros, muito menos das serviçais. Não compartilho as dores e não sei oferecer conforto.
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Emiliana me faz pensar que a vida toda eu passei maquinando como me livrar das pessoas. Nunca de João.