Marcel agia como se estivesse convicto de que tinha bons motivos para fazer o que quer que fosse. Suponho que Marcel tenha chegado a essa conclusão em algum momento distante, e de maneira subterrânea. O fato é que, depois dessa sentença, Marcel jamais revisitara esse pensamento. Porque Marcel refletira em um momento originário, Marcel não voltaria a refletir jamais. Marcel agia obstinado, acreditava que fazia escolhas importantes. Marcel tinha - seus - bons motivos para os atos ilegítimos. E quando apanhava da vida - sem glória - pensava, no seu íntimo - suponho eu -, que se a vida lhe batia assim tão corriqueira, tão grave e tão destinada, é que a vida só batia em quem era capaz de suportar. E suportava, sem carma nem cruz, sem prazer nem dor, o que julgava ser seu prêmio. Apanhar da vida, talvez fosse, para Marcel, sua própria glória, ou, ainda, a única espécie de troca que conhecia.
Marcel era a imagem desfigurada de um homem, a personificação da iniquidade. A Marcel, nem choro nem vela. Nenhum lamento ou comiseração. Apenas a vida que batia sem arrebatar.
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