quarta-feira, 7 de julho de 2010

Pé-direito alto em descontínuo V

Essas criadas não tem jeito. Ontem pela manhã, uma delas, a mais velha, não sei que asneira fez ao manejar a panela de pressão ao fogo, que a fez explodir, emporcalhando toda a cozinha. E o pior: desde então está cega. Os médicos disseram que a anta pode recuperar a visão em alguns dias ou nunca mais. De que vale a opinião dos médicos? Nunca sabem responder nada precisamente. Tudo o que fazem é um exercício de adivinhação. Como a serviçal não tem família, João achou por bem acomodarmo-na em nossa casa. Jamais admiti que as criadas dormissem aqui porque acho que elas já se interam demais de nossas dias para que também nos testemunhem as noites. Além do mais, o cheiro delas me provoca náuseas. Muito bem, ela dorme no quarto dos fundos. Uma suíte bastante razoável, pois é preciso que ela tenha acesso fácil ao banheiro. João se preocupa, se sente culpado. Como?! A incompetente não soube abrir uma panela e João se martiriza. Estou pensando no que fazer, onde despejá-la, caso a inútil não volte a enxergar. Sempre fiz questão de repetir diariamente todos os cuidados que elas devem ter ao cozinhar, ao limpar a casa, ao se higienizar, ao caminhar à rua. Não me ouvem, preferem a própria ignorância. Pois foi em uma dessas que a outra se queimou, ficou cega e manchou todas as paredes e o teto da cozinha.

Um comentário:

Breno disse...

Você escreve tão bem quanto vive!
Parabéns!
Já mostrou esse texto pra Carol?
Ela saca muito desse universo feminino!
Tirou 10 na monografia!
Teve uma flor ali que até chorou.
Foi inesquecível.
Um abraço do amigo,
Breno.