quarta-feira, 9 de setembro de 2015

Às vezes, me lembro da casa de G. Dos móveis despencando, do sofá-cama duro, do cheiro de cigarro, da janela que dava para um morro e um mato, para um oposto de cidade. Às vezes, me lembro da casa de D. Do cheiro do armário, da janela bem grande que ele quase nunca abria, dos móveis que trouxera da casa dos pais, de abraçar a mim mesma forte por dentro para não despedaçar quando encontrava um brinco, um batom ou uma jaqueta de outra mulher. Às vezes, me lembro da casa de B., do cheiro de material de construção, da cafeteira, da sanduicheira, do fogão, da máquina de lavar, do espelho do lado de fora do armário, de achar que estávamos estreando uma nova casa e uma nova vida. 

Trago todas as casas em mim, e não tenho onde morar. Aonde vou, não demoro. Logo parto, logo desgarro. Lanço-me ao mundo, resiliente e indefinida, sem audácia ou ousadia, e ainda que o mundo seja apenas um município do interior. Assumo que o faço por ponderada valentia, mas temo ser sina. Aprendi a partir, aprendi a deixar casas, cheiros, armários, sonhos e rotinas. Não tenho onde morar, então caminho. Vou me acostumando a nunca mais querer ou precisar de uma casa para morar. Nada possuo, nem as casas que carrego comigo. Não há o que me represe. Periga eu esquecer como se fica, como se habita e como se cuida. E de tanto partir, não ter mais volta. Por sina, ou valentia.

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