Ana
um dia
sonhou em ter um namorado
que lhe presenteasse com um par de patins
e a levasse para tomar sorvete na praça
Ana
nunca soube
no entanto sempre desconfiou
que o verdadeiro amor
era adolescente
Mas Ana cedo amadureceu
caíram em desuso os amores não consumados
e os homens a quem se entregou
foram todos
diferentes versões
de um mesmo
e imenso desastre
Ana não tem nojo dos casais que fazem
carícias escandalosas nas ruas à luz do dia
nem julga as meninas que sonham em se casar com seus namorados
porque Ana
que aprendera a viver sobre os escombros dos amores desmoronados
depois de tantos finais
não zomba do que aos outros parece ridículo
não apedreja o que aos outros é imoral
porque se ainda há ilusão, no mundo
se ainda há lascívia nas calçadas sob o sol do meio-dia
ainda a vida pulsa
e mesmo que os amores sejam sucessivos e incansáveis desastres,
apesar do desastre e maior que ele
há vida
os desastres são a ressaca dos sonhos
-o lamento pujante, inconformado, da perda
vencer o desastre requer vivê-lo
mas logo isso não é novo
e logo se aprende:
viver é algo
que se faz com insistência
Um comentário:
vencer o desastre requer vivê-lo
(isso é um eco)
gracias
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